quinta-feira, 29 de abril de 2010

PS.:

PS.:

E agora eu já nem sei mais em absoluto que fazer. As forças esvaíram-se, as esperanças se acabaram, fé eu já não tenho a tanto tempo.. Apenas o pó da vida e do pensamento me restam, o vazio já me consome, minhas mãos já não querem mais tocar, nem meus ouvidos ouvir, nem minha língua sentir gosto algum. Um passado remoto e distante, cheio de evasivas e más lembranças. Um presente cinza, desprovido de qualquer coisa que lembre vida. Como no caos, como as ruínas de uma cidade pós-guerra, como um vento sem direção. Futuro creio nem existir mais. Mas que fazer. Diante de tanta coisa que acontece lá fora, aqui dentro estou eu, vestido de sacos e cinza, em cima de meus próprios despojos, saturado e consumado, pela vida, pela fadiga, pela angústia, pela dor. A música que soa é a mesma de um sino, badaladas e mais badaladas, anunciando a chegada, a chegada do fim. Onde tudo é aterrorizadamente abalado e destruído pela grande tormenta. Num momento tenho essa impressão, mas já no momento seguinte lembro-me que é tudo fantasia, porque já passou, e agora nada mais resta. Somente o pó, a cinza, e as lembranças de um passado que nunca foi, de um vida que nunca foi. De um Eu tão falso e invisível, que duvida da própria existência, que por vezes imagina ser a sombra de alguém, ou um fantasma. Prosseguindo sem sair do lugar, o tempo pára comigo, porque eu sei que aqui dentro as coisas nunca mudam, o espaço não muda, nem o tempo anda, nem o cinza jamais se tornará colorido. Vida, quem é você. Mostre-me se um dia existiu em mim e eu em ti, ou se para mim nunca foi, nem nunca será, ou se não passa de uma ilusão minha e dos homens, ou quem me dirá se aqueles também não são ilusão. A incerteza, ela nos basta. Porque vivemos com ela. Talvez a sejamos, talvez sejamos a consciência da incerteza, talvez sejamos ambos ilusão.