sexta-feira, 26 de março de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

Presença

E os dias se passavam. Tão rapidamente que era impossível contar as horas. Uma, duas, três, era impossível. O colorido da vida, as valsas, os jogos, as gargalhadas, onde estava tudo aquilo agora? Era feliz num segundo, mas ali, naquele canto da sala subjugava seu passado, um passado ainda que distante, feliz. Mas estava demasiado longe. E ele nem lembrava agora mais o que era a alegria, como era ser feliz. Sabia que fora um dia, mas agora lembrava da felicidade saindo por aquela porta, junto com as cartas, com as lembranças, com os abraços, com os momentos, com ela. Tudo que tinha, tudo que teve um dia. Mas agora era tarde, o tempo passara, passara, e nada mais restava. O vazio, a sombra o tomava. Em todos os cantos da sala havia um duende que o apontava e o acusava por seus erros. Sabia que errara. Mas errar era humano, todos diziam isso. Mas talvez ela não soubesse. Ela queria um namorado perfeito, ela queria alguém que ele não pudera ser. Ele era só... um garoto, mais um. Com seus sonhos, tristezas, aspirações, e sabia que era, sim, diferente. Olhava os outros, com suas hipocrisias, com frases prontas - quantos clichês. Todos dizendo ser diferentes, mas ele os colocava todos no mesmo saco, porque sabia que eram iguais, essa era a verdade. Mas não ele, ele era diferente, tinha essa convicção, e sabia que malgrado tudo, um dia poderia encontrar a garota perfeita, seria difícil, mas conseguiria.
Olhava o céu, nublado, um dia lindo, lindo para ele. Que adorava a apatia, a melancolia, o cinza. Era como se tudo isso desce a ele forças. E todo esse tempo que estivera sozinho pôde refletir sobre muitas coisas, pôde compreender quem era e para quê estava ali. Sabia qual caminho seguir agora, não existiam mais dúvidas, contudo faltava a presença. E essa presença precisava ser imediatamente preenchida. E aí que seus pensamentos vacilavam, porque ao passo que queria deixar as coisas fluírem até encontrar o par perfeito, algo dizia a ele que deveria sair às ruas, que em casa, na sua solidão, e naquele quadro de pensamentos jamais apareceria alguém. E sabia que tudo que precisava agora era de uma garota, uma garota. Não importava quem, queria apenas aquela presença feminina, o cheiro, o cabelo, os braços, as palavras, os lábios, os sentimentos, algo que soasse feminino. Queria a presença de uma garota. Sim, agora estava decidido, devia sair às ruas. Procurar alguém, achar alguém. Abraçar, beijar, conversar, sentir, desfrutar, um momento com aquela obra-prima da natureza - a natureza feminil.
Saiu dali, achou melhor partir logo antes que voltasse aquela vontade louca de ficar sozinho e recolher-se, pegou o casaco, saiu. O dia era bom, nublado, frio. Clima perfeito, e pretexto perfeito para conseguir um abraço. Andou uma, duas, três quadras, ninguém. Parecia que as pessoas tinham fugido para longe, haviam se escondido - dele. Até que na quarta quadra encontra alguém. Achou que seria mais simples, que encontraria apenas uma paquera por aí, ou uma garota conhecida. Porém mais que isso, encontrara ela, que fez uma lágrima descer de seus olhos um dia. Aquela que conseguira um dia despertar seus mais profundos sentimentos. Ela vinha logo ali, a uns dez passos. Pararam, ficaram a se olhar uns cinco segundos até que ele soltou E aí, tudo bem? Sim, e você? Vou bem. Incrível a tranquilidade com que ela o olhava, era como se naquele momento não existisse mais nada além deles. O mundo agora não tinha a menor importância. Ele estava com ela, e sabia que tudo que mais quis um dia era viver o resto de sua vida ao lado daquela garota, que já via como uma mulher consagrada, perfeita e linda como era. Todos aqueles dias com intervalos grandes demais para ele, ela repetia que também sentia por ele o que acreditava sentir por ela. Isso o alegrava sobremaneira, dava-lhe forças para vencer aqueles dias sozinho. E agora ali, sabia que a um respiro estava toda a essência de sua vida, que era ela. Aquela sensação branda de tranquilidade o tomava, sabia que se pudesse ter ela, sua vida mudaria completamente, voltaria a ser feliz. Aquela presença já o mudara, não se arrependia de ter saído de casa, pelo contrário, agradecia a quem o tinha feito sair às ruas.
Num movimento mais ousado sentira o perfume. Aquele cheiro vinha carregado de boas lembranças, de momentos inesquecíveis. Aqueles olhos que podia contemplar agora, o desenho dos lábios, o nariz tão perfeito, o cabelo tão liso, tão negro, tão atraente. Sua tez branca como neve, tudo nela o enternecia, tudo nela provocava nele uma sensação divina. E o futuro talvez dependesse desse momento, uma dávida encontrá-la ali, não teria outro instante mais oportuno. Parecia combinado, predeterminado pelo destino aquele encontro. Sonhava com ela todos os dias, dormindo ou acordado, acreditava que assim tinha com ele sua presença. E que ela nunca o abandonara, onde estivesse tinha certeza que ele estava no pensamento dela. Era o que ela declarava sempre. O que acontecia entre eles só eles entendiam. Eram feitos um para o outro. Tudo que acontecera, todas as turbulências do namoro, quantas vezes já não tinham rompido, e quando se reencontravam ficavam como agora, a se contemplarem mutuamente com aquela incrível sensação de paz que sentiam apenas um na presença do outro. Mas hoje havia algo diferente, e sabia que apartir dali, tudo mudaria. Ele percebera o quanto a amava e o quanto precisava dela para viver. Daria tudo por ela. Era a mulher da sua vida.
Sem dizer uma palavra, tocou sua mão. Os dedos entrelaçaram-se. E, inesperadamente, os olhos dela se encheram de lágrimas, uma correu, e ela sorriu. Ele a contemplá-la, aquela garota tão linda que chorava agora de alegria por ele. Sorria também. Voltaram-se para um mesmo sentido, e ele não conseguiu segurar Onde ia? Te encontrar.

Lembrar

E quando eu me lembro de ti
Só quero escrever escrever
E sonhar
Eu consigo imaginar nós dois
Valsando em cima das brancas nuvens
Você vestida de majestade
Eu a te olhar e admirar
Todo o céu
Todo o universo
Apenas para nós dois
Um par perfeito
Dois em um
Um amor
Uma vida
A perfeição da vida.
Nada parece ter cor
E nada é
sem a sua presença.

sábado, 20 de março de 2010

Coisas

E a vida acontece lá fora. Pessoas, ruas, carros, lojas, convicções, facções, tristezas. Só quero ir onde tenho que ir e ganhar um abraço, uma palavra amiga, um aperto de mão sincero, um olhar nos olhos e deixar evidenciar-se todo o enternecimento da boa alma. Uma conversa, um aconchego, um riso, uma lágrima, uma música, um canto de pássaro, uma sombra, uma sintonia, é o que precisamos. Um minuto para nós mesmos. Para olhar a grandeza do universo e de toda a natureza que nos resta. O amor, a sinceridade, o carinho, a vida, o ar. O tempo que nos resta. Fazer uma boa ação enquanto vivemos. Olhar o horizonte. Sonhar. Viver. Sorrir. Abrir os braços para o céu e sentir a brisa fresca. O barulho do mar. A pessoa amada. A boa música. A noite escura. O sol. As nuvens. O coração. Coisas. Coisas.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Quarto

Às vezes você pensa ser normal, e as coisas no começo vão bem, mas de a pouco você não se encaixa mais, e você volta a ter a impressão que ali não é o seu lugar. Então você sai pela mesma porta que entra todos os dias. Mas não como ontem, nem como antes, agora você se sente estranho,e uma sensação estranha toma conta de você. Então, sem dizer nada a ninguém você sai, para desparecer, deixar os pensamentos fluírem, a imaginação voar, o vento fresco no rosto e sentir a paz em um momento. E ali, mesmo naquela fria noite, você não consegue, por não ser mais o mesmo, e você sente mudar. O mundo gira maas rápido, as lembranças vêm, e como num êxtase você eleva-se, talvez tenha conseguido a emancipação tão desejada, mas não. Tudo se passa num segundo, e você volta, ali, onde tudo começara numa manhã calma e sóbria de fevereiro. Passara-se tantos anos, você cresceu, não quis se formar, não quis procurar outra pessoa. Mas contudo os dias foram turbulentos, e aquela calmaria era só uma impressão falsa das grandes ondas que viriam. E hoje você recorda e por vezes ri, quando consegue, de tudo. Das gargalhadas embaixo da cama, das horas passadas najanela olhando a rua, Do caderno de confissões, tão sagrado, tão profano, você nem sabia, era um agora e outro no momento seguinte. Olhava as telas penduradas, desenhos bonitos próximo à porta, mas ao aproximar-se da cama, as telas tornavam-se sombrias, a dor apertava-lhe o peito, a saudade batia misturada com a mágoa e com a falta daquele carinho. Aquela pessoa amada, que fora, talvez para não voltar jamais. E por isso a esperança esvaía-se, o quarto escuro, luz apagada, sempre, e o som brando da flauta para acalmá-lo.

Vida

Plausível. Assim que eles querem, que você seja agradável e que tenha atitudes plausíveis. Só queria saber quando inventaram tudo isso. O ser humano é mal? Ou a sociedade que o corrompe? Alma é o quê, intelecto ou emoção? Nós temos de ser comportados mesmo? Quem de vocês sabe quando vai morrer? Ou quando vai cair de um penhasco? Ou quando vai acertar na loteria? Perguntas e mais perguntas. As respostas se retiram, preferem que o vazio tome seus lugares. Talvez não precisemos destas respostas. Talvez não nos seja "lícito" tê-las. Mas enfim, "quais são as palavras que eu quero mais repetir na vida? Felicidade, Paz, Fé; Felicidade, Paz, Sorte?!" A alegria está logo ali, por que não apanhá-la? Por que aprisionarmos a nós mesmos? Que mal tem em ser feliz? Trabalho existe, e daí? Já me disseram que sou vagabundo, talvez o seja aos olhos deles, mas antes de tudo, eu tenho princípios, princípio de ser original, de seguir o caminho. Então vamos seguir, porque não deixaremos mais os dias se tornarem escuros nem o medo nos tomar, agora somos livres, agora estamos lúcidos. E vamos seguir o caminho, sem prepotência, sem mistificações, nem mentiras, apenas seguindo alegre, contente, por essa estrada de flores, alegria, música e paz. A vida está aí, vamos enche-la com alguma coisa boa. Plante uma árvore, diga Obrigado, saúde, abrace, viva com alegria, somos vivos e precisamos viver.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A Verdade

-Você tem dúvidas?
-Sim, muitas.
-Sei como é, eu tive muitas dúvidas, mas libertei-me delas, e sabe como? Conhecimento. Eu busquei, busquei muito. Li desde os pré-socráticos até os pós-modernos. Esclarece muitas coisas, mas ainda assim você não alcança a plena emancipação espiritual. Então li a Bíblia. Já leu o Sermão da Montanha?
-Não, ainda não.
-Lá tem toda a moral cristã num só capítulo. Discussões que tantos filósofos punham em pauta em tantos livros, Jesus com uma só frase as derruba e nos convida a aceitar a Verdade. Você tem contato com a Verdade, mas tome de outras fontes, busque, para que tudo se confirma e você liberte sua alma. As dúvidas nos colocam em cima do muro, e o mundo é forte, mas a mão de Deus é mais forte ainda. Contudo, a libertação você pode obte-la através da busca incessante pela confirmação da Verdade.
-Eu tenho ouvido falar que existem apenas verdades relativas, e que não existe uma verdade absoluta. Que vários caminhos levam à vida.
-Os homens fazem confusão. De pré-conceitos tentam fazer valer verdades. Mas a Verdade é uma só, que é Deus. E apenas um Caminho nos leva à Deus, à Salvação, e à Vida Eterna.
-E que caminho é esse?
-Jesus. Por sua morte nos deu a oportunidade de salvar nossas almas. Basta nos arrependermos de nossos pecados, passar pelas águas do Batismo e servir a Deus.
-E como sirvo a Deus?
-Existe apenas uma doutrina que é verdadeira. E essa doutrina se encontra no Evangelho. Nas cartas de Paulo, nos ensinamentos de Jesus. Busque, procure a Verdade, e ela te libertará.