A vida que passa. Os sonhos que se sonha. A alma rejuvenescida. A alegria de quem ama.
sábado, 22 de maio de 2010
Até quando
Por vezes me pergunto até quando. Até quando o disfarçar da tristeza, até quando a angústia, o auto-desprezo, a ganância morta, os olhares fortuitos, a não subjetividade, a não profundidade, até quando a superficialidade, até quando esse correr de olhos, correr de passos, correr de nada. Até quando esse vazio, essa sombra, essa corrida, esse vento sem direção, até quando esse vasto deserto de sonhos, essas pessoas, essas ruas tão ligeiras, tão vazias. Até quando esse estar aqui sem fé, apenas com a cinza da esperança. Até quando esse repúdio, até quando essa vontade de estar perto, essa vontade de sorrir, de abraçar você, de te beijar, de te dar carinho. Até quando esse não ser completo, até quando essa vontade de viver, de estar lá e não aqui. Até quando os mesmos caminhos, até quando o não encontrar-se, o afastar-se, o deixar, o devir, o estar do lado de fora, o não fazer parte. O não mostrar a si mesmo, o não mostrar aos outros, a não auto-afirmação, o desvio, a volta, o ciclo, o nada novamente. O pensar e repensar, os caminhos que não levarão você a lugar nenhum, o socorro, a busca, o bater de mãos, o pegar o ar, o não sentir com lágrimas, a contradição, os momentos fortuitos de dor, o não apego, o não amar, o abastar-se, o esquecer, a marca, a marca que fica... que sempre fica, as lembranças, o cheiro, a memória, os dias apáticos, o céu nublado, a solidão, a falta, o balanço das folhas, a água, o estar aqui, a existência parecendo completa... até quando.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Café
Ali no café, já era passado das dez horas, e ela nada. Qualquer adversidade poderia ter se tornado um obstáculo naquele encontro. Virara rotina, não era o primeiro, já estava acostumado. Ela a cada dia mais bela, passavam ali das dez ao meio dia conversando sobre suas vidas, sobre seus sonhos. Aqueles encontros, todos eles tinham sido perfeitos, nem na adolescência, nem em nenhum outro momento da sua vida teve seus dias tão harmoniosos. Financeiramente só devia agradecer a Deus. Seus sonhos realizados. Tinha terminado já sua pós em música, durante um tempo estivera dando aulas de história da música na universidade e agora decidira dar um tempo. Tocava na orquestra que sempre desejara e como se não bastasse tudo isso, ainda encontrara a mulher dos seus sonhos. Ela tão cheia de vida e classe, aspirava às mesmas coisas, realizara-se quase que da mesma forma. Tudo tão perfeito, durante a adolescência se desiludira tantas vezes achando que alma gêmea nem existisse. Mas agora era real, a conhecera numa exposição de arte contemporânea e agora estavam todos os dias a se encontrar no café, conversavam sobre o mundo, assunto nunca faltava, ela era tão perfeita, o seduzia a cada palavra, a cada olhar. Contudo, nem beijo nem dava tinha acontecido, apenas as conversas. Que embora distante, profundo. Mas não tinha com o que se preocupar, não pensava mais como antes. E agora, mais que em qualquer outro momento tinha a impressão que o ritmo da vida os aproximava, a cada dia sentia ela mais perto. Não queria apressar as coisas, já a essa altura tudo estava bem, chegara longe, mais do que sempre imaginara, aos poucos sentia conquistar a mulher dos seus sonhos.
Olhava a rua, manhã nublada, as pessoas passavam apressadamente pelo calçadão movimentado. Tantas pessoas, tantas convicções, tantas ilusões. Ninguém o notava ali. Em algum momento sentara na mesma mesa e por dentro chorava. Não que não tivesse ninguém, tinha os melhores amigos do mundo que sempre estavam preocupados com ele. Mas ainda sim se sentia sozinho, parecia que não era o suficiente. E ninguém ali o notava, era como se não existisse. Todas voltadas para os seus problemas, ninguém a fim de compartilhar, saber se está tudo bem, se precisa de algo, se quer uma companhia. Por vezes se confundia em meio a tantos pensamentos, tanta vontade de viver. Mas ali estava ele, mais uma vez, tão apático, tão previsível, na monotonia de sua alma. Por que as coisas funcionavam assim? Ele realizara seus sonhos, mas não a ele mesmo. Tantos esforços para conseguir o que queria, e conseguiu. Mas não era o suficiente, precisa de alguém, precisa de um amor. Todas as garotas da sala, as paqueras, ficava com elas, mas não sentia o essencial, o amor. E ali, na faculdade de artes o amor era a motivação de muitos, alguns compunham suas músicas todas baseadas no amor. E parecia para ele tão distante...
Ali, olhando a rua, Por que as pessoas não paravam um segundo e não conversavam? Por que um desconhecido não apertava a mão de outrem? Todos a passos largos, para o emprego, para a entrevista, para a compra, para a escola. Ninguém notava ninguém. Cada um vivia sua vida com seus botões, sem notar a presença de outro ser humano.
Mas enfim, tudo passara, ele também ignorava os outros agora, estava demasiado ocupado, apaixonado, obcecado, tudo por aquela garota, aquela mulher, que era o ideal para ele. Concentrara todas suas forças nela, talvez até não intencionalmente, mas agora estava tudo posto à mesa. Sua vida depositada em uma mulher. Perdera a conta de quantos presente, a cada dia um recomeço, conhecia a vida dela, sabia onde morava, os pais, tudo em tão pouco tempo, era como se no fundo a vida devesse compensar todo o tempo que esteve fora, fora da vida apaixonada.
Ela chegara, com toda sua elegência, seu sorriso maravilhoso, seu cabelo preto, longo e tão brilhoso, suas mãos tão brancas, seus olhos verdes reluzentes, o contorno dos lábios de uma sutil perfeição. Ali estava ela, mais um dia, e ele a contemplá-la, aquela formosura esplêndida, o seduzia e encantava. E ele acreditava, convicto, que ficariam juntos.
Olhava a rua, manhã nublada, as pessoas passavam apressadamente pelo calçadão movimentado. Tantas pessoas, tantas convicções, tantas ilusões. Ninguém o notava ali. Em algum momento sentara na mesma mesa e por dentro chorava. Não que não tivesse ninguém, tinha os melhores amigos do mundo que sempre estavam preocupados com ele. Mas ainda sim se sentia sozinho, parecia que não era o suficiente. E ninguém ali o notava, era como se não existisse. Todas voltadas para os seus problemas, ninguém a fim de compartilhar, saber se está tudo bem, se precisa de algo, se quer uma companhia. Por vezes se confundia em meio a tantos pensamentos, tanta vontade de viver. Mas ali estava ele, mais uma vez, tão apático, tão previsível, na monotonia de sua alma. Por que as coisas funcionavam assim? Ele realizara seus sonhos, mas não a ele mesmo. Tantos esforços para conseguir o que queria, e conseguiu. Mas não era o suficiente, precisa de alguém, precisa de um amor. Todas as garotas da sala, as paqueras, ficava com elas, mas não sentia o essencial, o amor. E ali, na faculdade de artes o amor era a motivação de muitos, alguns compunham suas músicas todas baseadas no amor. E parecia para ele tão distante...
Ali, olhando a rua, Por que as pessoas não paravam um segundo e não conversavam? Por que um desconhecido não apertava a mão de outrem? Todos a passos largos, para o emprego, para a entrevista, para a compra, para a escola. Ninguém notava ninguém. Cada um vivia sua vida com seus botões, sem notar a presença de outro ser humano.
Mas enfim, tudo passara, ele também ignorava os outros agora, estava demasiado ocupado, apaixonado, obcecado, tudo por aquela garota, aquela mulher, que era o ideal para ele. Concentrara todas suas forças nela, talvez até não intencionalmente, mas agora estava tudo posto à mesa. Sua vida depositada em uma mulher. Perdera a conta de quantos presente, a cada dia um recomeço, conhecia a vida dela, sabia onde morava, os pais, tudo em tão pouco tempo, era como se no fundo a vida devesse compensar todo o tempo que esteve fora, fora da vida apaixonada.
Ela chegara, com toda sua elegência, seu sorriso maravilhoso, seu cabelo preto, longo e tão brilhoso, suas mãos tão brancas, seus olhos verdes reluzentes, o contorno dos lábios de uma sutil perfeição. Ali estava ela, mais um dia, e ele a contemplá-la, aquela formosura esplêndida, o seduzia e encantava. E ele acreditava, convicto, que ficariam juntos.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Paz
Agora nada importava mais. Os problemas se fizeram tão evidentes, a irritação, a desilusão, tudo fez-se cair de súbito. Sem expectativas, sem avisos, tudo num momento. Mas não importava. Agora a paz que o invadia era incontestável. A conhecia bem, o suficiente para saber que ela o acompanharia o resto de sua vida, se ele não resolvesse doravante espantá-la. Mas não era tolo. Abraçara essa paz com toda a ternura do mundo, queria fazer dela sua companheira, sabia que podia confiar, ela nunca iria o desamparar.
Tantos caminhos, tantos relevos, tantas oscilações, tantas expectativas, mas valeu, valeu a pena. Experiência fora o que ganhara e agora sabia que tais caminhos não eram 'acertados' nem 'sustentáveis'. Sempre conhecera a verdade e por tantos momentos decidira se esconder, ou traçar outros rumos, mas misericordialmente ele está novamente na linha reta, esperamos que continue assim. Paz - não tem preço.
Tantos caminhos, tantos relevos, tantas oscilações, tantas expectativas, mas valeu, valeu a pena. Experiência fora o que ganhara e agora sabia que tais caminhos não eram 'acertados' nem 'sustentáveis'. Sempre conhecera a verdade e por tantos momentos decidira se esconder, ou traçar outros rumos, mas misericordialmente ele está novamente na linha reta, esperamos que continue assim. Paz - não tem preço.
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