quinta-feira, 11 de março de 2010

Quarto

Às vezes você pensa ser normal, e as coisas no começo vão bem, mas de a pouco você não se encaixa mais, e você volta a ter a impressão que ali não é o seu lugar. Então você sai pela mesma porta que entra todos os dias. Mas não como ontem, nem como antes, agora você se sente estranho,e uma sensação estranha toma conta de você. Então, sem dizer nada a ninguém você sai, para desparecer, deixar os pensamentos fluírem, a imaginação voar, o vento fresco no rosto e sentir a paz em um momento. E ali, mesmo naquela fria noite, você não consegue, por não ser mais o mesmo, e você sente mudar. O mundo gira maas rápido, as lembranças vêm, e como num êxtase você eleva-se, talvez tenha conseguido a emancipação tão desejada, mas não. Tudo se passa num segundo, e você volta, ali, onde tudo começara numa manhã calma e sóbria de fevereiro. Passara-se tantos anos, você cresceu, não quis se formar, não quis procurar outra pessoa. Mas contudo os dias foram turbulentos, e aquela calmaria era só uma impressão falsa das grandes ondas que viriam. E hoje você recorda e por vezes ri, quando consegue, de tudo. Das gargalhadas embaixo da cama, das horas passadas najanela olhando a rua, Do caderno de confissões, tão sagrado, tão profano, você nem sabia, era um agora e outro no momento seguinte. Olhava as telas penduradas, desenhos bonitos próximo à porta, mas ao aproximar-se da cama, as telas tornavam-se sombrias, a dor apertava-lhe o peito, a saudade batia misturada com a mágoa e com a falta daquele carinho. Aquela pessoa amada, que fora, talvez para não voltar jamais. E por isso a esperança esvaía-se, o quarto escuro, luz apagada, sempre, e o som brando da flauta para acalmá-lo.

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