sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Direito

Um mundo injusto e desigual, o que vejo todos os dias. Os ricos me olham e esnobam, as garotas nem sequer olham para mim, tudo porque não tenho boas roupas para vestir, porque não tenho um carro do ano, porque minha mochila é remendada e meu tênis sujo. Não posso ir ao shopping com uma garota, porque não tenho dinheiro nem pra mim quanto mais pra bancar ela. Não tenho condições de comprar nem uma moto, nem uma bicicleta, nem uma roupa nova. Trabalho e estudo e nem namorada tenho. Culpa desse sistema maldito, onde elas pensam que estão em outro nível, quando em verdade estão por causa do sistema. Mas perante a Lei somos todos iguais, somos todos feitos de alma e carne, todos nós adoecemos, todos nós espirramos, todos nós somos iguais! Mas eles não querem ver isso, eles não querem ao menos acreditar! E é por isso que a cada dia minha tristeza vai se tornando em cólera e mágoa, e a vontade que tenho é de destruir suas casas, roubar seus carros, bater naqueles playboys, e pegar todas essas patricinhas que não me olham. Tenho vontade de invadir a prefeitura e fazer tudo descer abaixo! tenho vontade de abrir o cofre público e distribuir todo o dinheiro que tiver lá para quem mora na favela, até não restar nem uma moeda!
Por que, afinal, que direito eles tem mais que nós? Vejo conhecidos que hoje estão na universidade cursando a faculdade dos sonhos. Mas eu estou em casa, meus sonhos se tornam pesadelos e minha vida é barro, como diz O Rappa. Pareço vil, mas tudo que aspiro é igualdade e justiça, e farei o que for preciso, farei tudo o que tiver ao meu alcance para poder ver um dia uma sociedade justa, sim eu sou comunista! E lutaremos juntos, todos nós que abominamos esse sistema tão injusto que nos mata a cada dia, não somente pela falta do dinheiro, mas pela humilhação de todos os dias e por não ter nossos interesses considerados. Nossas vidas se resume em trabalhar, trabalhar, e ver os ricos nos pisando, nos olhando de cima e mostrando todo o asco e náusea que sentem! Mas o jogo vai virar, e um dia eles verão que nunca jamais foram superior a nós, e que todos temos os mesmos direitos à comida, à educação, ao lar, à felicidade e à paz.
Vamos lutar juntos, e acabar com a burguesia e com todo o mal que os capitalistas nos impõem! Chega de sofrer, chega de ser humilhado, vamos derrubá-los e tomar posse do que é nosso! Vamos destruir o seu sistema e impor a ditadura do proletariado, de nós trabalhadores, que suamos a camisa todos os dias para ganhar quase nada enquanto eles desfilam com seus belos carros e suas roupas caras! Esquerdistas, proletários, sindicalistas, revolucionários, uni-vos!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Atraso

- Que porra irmão, presta atenção!
- Foi mal cara, tá tudo embaçado a merda do vidro!
- Tá vendo alguma coisa?
- Quase nada!
- Vai nessa que logo a gente chega!
Foooooooom!
- PORRA, que foi isso agora?
- Uma carreta, caralho!
- Vê se vê a pista, merda!
- Tá embaçado a porra do vidro!
- Dá um jeito, a gente tem que chegar logo, o cara aqui tá sangrando!
- Tô tentando, merda!
- Calma aí cara, aguenta mais um pouco!
- Minha perna...
- Corre mais!
- Não dá, quer explodir o motor?
- O cara tá morrendo, merda!
- Cala a boca que é melhor!
- E aí cara, aguenta firme.
- Ele vai conseguir.
- MERDA, fudeu cara!
- O que foi?
- O cara parou de respirar!
- Fala sério!
- O cara tá sem respirar, ele morreu porra, ele morreu!
- Que merda cara, não deu tempo!

Vadiagem

- Aí mano olha só a mina que tá vindo ali!
- Cara, filé!
- Vamo cercá, vamo cercá!
- Qual é gatinha, dá um tempo pra gente!
- Haha, olha só como ela se bate, parece uma pexinha fora da água!
- Ual, caraca velho olha só o que eu achei aqui!
- Mano, essa é da boa!
- Haha, uma vadia dessa com maconha!
- Deve sê uma safada!
- Quem vai primero?
- Eu , ainda pergunta!
- E, mano qual é, mais velho!
- Vai pa puta que te pariu meu irmão, eu que mando aqui!
- E, que história é essa maluco? Vai dá uma de otário agora é?
- Mano, fica na tua senão vai sobra pro teu lado!
- Vai sobra pro meu lado nada, que vo te dá uma sua agora porra!
- Cê tá de brincadeira, eu te bato com uma mão só!
- Então vem!
- Porra cara, a mina fugiu!
- Vai pra porra meu irmão, por que não cuidô dela?
- Ela era mesmo uma vadia!
- Você tá chapado!
- Vamo nessa que tá tarde!

Novas

- Eu não acredito! Você aqui!
- Pois é, muita gente já se assustou com minha presença aqui, mas a verdade é que eu mudei, sou absolutamente outro!
- Nossa, quem diria, você, com todos aqueles costumes bizarros, era de assustar hein!
- Minha vida mudou depois que me separei, parece que era ela quem fazia eu reter tudo aquilo em mim!
- Ah, sem dúvida! Ela sempre foi uma péssima influência pra você! Você é jovem, e bonito, e sabemos que tem uma capacidade imensa pra tudo!
- Passo o tempo todo agora a estudar, a ler, o último romance que li foi um de Dostoiévski, maravilhoso, quem me indicou foi meu professor de filosofia.
- Que maravilha, e as aulas como estão indo?
- Ah, não tem lugar melhor que uma sala de aula, me lamento pelo tempo que perdi, mas também acredito que tudo tem seu tempo, e vou aproveitar agora, tenho grandes expectativas quanto ao futuro!
- Muito bem, que palavras! Ainda ontem não sonhava que um dia ouviria isso de você!
- Creio que todas as pessoas mudam um dia, se não mudam, têm ao menos a oportunidade de mudar, sempre para melhor. A experiência da vida é a melhor sabedoria que podemos adquirir!
- Bem, a conversa está ótima, fico feliz por você ter mudado, vejo que agora vou ter uma ótima companhia para o chá das três.
- Ora sempre que puder, irei visitá-la.
- Venha mesmo querido, outrora não te receberia nem no portão, mas assim será minha melhor companhia, e minha casa é sua casa.
- É muita gentileza da senhora, não é para tanto.
- Fico feliz por você meu filho, de todo o coração.
- Mas então eu apareço, vou indo que tenho alguns assunto ainda para resolver hoje.
- Deus o acompanhe.
- Amém.

Apatia

Eu não me importava, eu realmente não me importava. Não naquele momento. Eu achava que seria sim, o término de mais uma etapa mas que a falta daquilo não me aborreceria, doce engano.
Os dias iam passando, e chegávamos cada vez mais perto do fim, do último dia, da despedida. Tentávamos bolar alguma coisa, mas não conseguimos nada. E foi assim que as coisas se acabaram. Chegado o último dia, saímos um pouco mais cedo, e fomos para o bar. Grande despedida. Trouxeram uns aperitivos e umas cervejas. Eu, como era de menor ficava olhando a rua toda hora, de repente passou um camburão pra cima, e não voltou, foi um alívio para mim. Acabou então a cerveja, pegamos as mochilas e saímos. Acompanhei meu amigo até a casa dele, era umas onze horas da noite. Ficamos ali conversando uns vinte minutos, falando sobre a escola, os professores, a galera, os dias tão apáticos, que são tantos. Ambos com as mesma falta de convicção, ambos tão decepcionados, com tudo, com a vida que levávamos. Por vezes, alguns argumentos tentavam subsistir, mas não eram suficientes para aniquilar o amargo de nossas vidas, nossos corações quebrantados, e o vazio. Olhávamos um para o outro e ríamos, de nós mesmos, da nossa miséria, da nossa pobreza de espírito, da nossa tão sem vontade de viver. Tudo porque nada tínhamos, ele professor de inglês, eu de música, e ambos sem convicção nenhuma. E ele dizia: Tua mãe já olhou pra você e disse, você é um bosta!? E eu respondia que sim, o que de fato aconteceu, não só minha mãe, mas meu pai também. E mandávamos à merda, não eles, mas a nós mesmos. Mas contudo não culpávamos somente à nós mesmos pela nossa desgraça, mas às circunstâncias, à falta de oportunidades, aos atrasos, e à nossa falta de sorte.
E eu achava que não precisava de uma formatura. Mas se tivesse acontecido, hoje vejo o quanto seria significativo pra mim. Não era bobeira, nem perda de tempo. Mas aquele ano foi trágico em seu fim, trágico e melancólico. Sem mais vida, sem expectativas nem direção. Mais um ano que acabou sem chave de ouro, sem cortinas nem tapetes vermelhos, sem música, sem platéia, sem cor. Eu sozinho, pra variar, em todos os sentidos, nem amigos, nem garota, nem família presente. O quanto essa vida é vazia!
Veja bem as horas, uma e sete da madrugada, e eu frente a um computador escrevendo. Eu rio disso. É de fato risível. Agora pouco toquei numa formatura, e lá uma garota veio falar comigo, uma conhecida, falamos pouco, e não rolou nada, obviamente, e bateu aquela tristeza que bate sempre, não por não ter rolado ali, porque eu já sabia que não daria em nada, mas é que isso faz eu lembrar de todas as minhas derrotas, que se somam incansavelmente. E por vezes eu tento lembrar dos bons momentos, dos elogios etc, mas nunca são suficientes para tirar toda a tristeza e mágoa de mim. Penso sempre que a 'Fortuna', e o 'Destino' estão sempre contra mim, porque as "horas certas nos lugares certos" acontecem com tão pouca frequência! E a hora errada no lugar vazio, isso parece que me acompanha. É significativamente triste tudo isso, minha vida é feita de melancolia, não dá pra negar. Eu consigo sentir o que sentia ao relembrar um episódio triste da minha infância. Existem muitas tristezas, mas nada é pior que a solidão. E eu só consigo lembrar de episódios que estive sozinho, desejando alguém do meu lado, mas esse alguém, eu não fazia nem faço idéia de onde esteja. provavelmente com o pensamento em qualquer outro lugar que não eu. Quando olho meu passado, minha infância, posso traduzir tudo numa figura, um lugar acinzentado onde só esteja eu, mais ninguém, porque todos os episódios que consigo lembrar são assim. E é realmente triste, ver e sentir minha tristeza e abandono todos os dias. Às vezes pego meu violino e tento canalizar meus sentimentos, mas nunca consigo, tudo que sinto é um vazio imenso dentro de mim.
Mas a vida continua, como sempre, fazer o que, bem ou mal ela vai continuar seguindo e nós tropeçando talvez, temos de acompanhá-la. Eu sei que preciso de alguém para amar, eu sei que a vida sem amor não é nada. Eu sei que fui um idiota ao lançar ao vento todas minhas grandes oportunidade de ser feliz, no fim das contas só posso culpar-me a mim mesmo. Que arrogante e ignorante sou! Me pesa, tudo me pesa, o amargo no peito, a falta de bons momentos, o rosto sempre tristonho, a vontade de um abraço. Carência, eu odeio essa palavra, faz de você mais miserável ainda. Mas é assim como as coisas acontecem comigo, eu quero só uma garota para reclinar minha cabeça no seu ombro e deixar as lágrimas cairem, lágrimas que serão de felicidade, assim são meus dias, tão tristes, eu tão só, sempre, a disfarçar minha tristeza, minha solidão, meu lamento. Deixo, escondido, as lágrimas caírem, banham meu rosto. Quando esse tempo ruim vai terminar? Será mesmo que serei feliz um dia? Espero que amanhã seja um dia bom, que eu encontre por aí alguém que me dê um abraço e uma palavra amiga sincera.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Que nos resta

Às vezes queremos mudar o mundo e esquecemos que devemos começar pelo nosso meio. Nosso lar, nossa família, os amigos mais próximos, o quanto precisam de nós! E o quanto precisamos deles também. Ocupamos nossa mente com o que seremos daqui a cinco, dez anos e esquecemos que o futuro é incerto, que tudo o que temos é o agora. E se amanhã tudo acabar, que fizemos?
Eu vejo como as coisas funcionam, sei que toda cólera ameniza e toda turbulência passa, sei que todos os momentos difíceis são tão passageiros quanto os momentos de felicidade. Mas que nós podemos sim, tomar as rédeas de nossas ações frente aos incidentes da vida. Porque tudo um dia acaba e, independente se acreditamos em vida depois, o que fazemos nessa vida fica marcado, na memória da família, da pessoa amada, para a humanidade, ou nas páginas de um livro. O importante é que saibamos dar a palavra no momento oportuno, dar um abraço ou simplesmente colocar a mão no ombro do amigo e dizer Estou com você. Ou saber fazer aquele silêncio quando o outro está irritado. Saber importunar as pessoas, com carinho, com elogios, com palavras doces, com boas ações.
Nada pode pagar aquela sensação de sintonia com a família, de estar na mesma onda que seus amigos, aquela sensibilidade, aquela capacidade de ver, interpretar e saber agir com todos. O reunir-se na sala, na mesa para jantar e comentar assuntos supérfluos e engraçados do dia. Falar sobre a cena de um filme, o andar esquisito do cara no banco, do carro que pensa em comprar, coisas absolutamente banais mas que fazem de um momento simplório uma lembrança de felicidade. E por tudo isso vejo como é importante largar mão de aspirações altivas e daquela convicção de se fechar para crescer. A vida é como é, tantos atrapalhos, enroscos, mas tantos bons momentos, tanta leveza e suavidade nos dias de paz.
E assim andamos, que diremos agora do futuro não sei, mas se existir um futuro, falaremos nele muito bem do passado. Um passado vivido com encantos de uma vida livre, boa e saudável. Nada de prepotências, vamos é curtir essa vida com o amor que nela existe. E sendo sempre bons, da melhor maneira possível. Vamos aproveitar o agora que nos resta com essa alegria dentro dos nossos corações.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Bondade

Me corta o coração ver aquela criança chorando e a mãe nem aí. Pra que um tapa se ela só queria conhecer mais um pedacinho do mundo? Pra que gritar com ela se ela só queria ser feliz? Por que ser cruel quando a afabilidade e a amabilidade existem?
Eu sempre amei as pessoas, e nunca fui nem quis ser cruel, quantas vezes livrei amigos e pessoas distantes de passarem por situações constrangedoras, quanto os livrei de marcas amargas em suas vidas. É verdade que nem todos reconhecem, sempre foi assim, todos sabemos, os ingratos são muitos e poucos os que reconhecem o valor de alguém que tem a capacidade de ser fiel a outrem.
Tive amigos inteligentes e amigos amáveis, pessoas tão diferentes que estão à minha volta. Cada um tão diferente do outro e no fundo tão igual. Procurando as veredas de seus caminhos onde a luz não os encontra e onde os pedregulhos são tantos que os fazem perder a estabilidade. E lá continuam indo, errantes, com lágrimas e teimosos. Um mundo tão vasto com pessoas tão grandes. Tanto a fazer, tanto a amar, tanto a querer e muitos ocupam seu tempo com maldades, com insanidades, com pesadelos. Olham de longe o bem, mas se afastam repulsivamente como se fosse algo nocivo e vil. Quando seus caminhos já, tão gastos, latejam e fazem aparecer a apatia de um desespero que não se acaba. E você olha a eles com olhos indiferentes, porque o espanto já passara, e a previsão é o que acompanha a todos.
Mas ainda resta a esperança que algum dia se arrependam, que lhes caiam dos olhos as escamas e vejam a luz, que se alegrem e se embriaguem dessa felicidade constante de quem faz o bem.
A vida nos dá a oportunidade de escolhermos nossos caminhos. Que os que agora vêm, escolham o bem, e que aqueles se voltem novamente para nós. Não somos mais um time, mas sim uma nação, a nação dos benfeitores. Dê aquela rosa àquela criança e conte uma história a ela, diga que nós a amamos e que sempre estaremos com ela, renove as suas esperanças e faça o arco-íris brilhar em sua vida, mostre a ela que sempre existiu e sempre vai existir pessoas que conhecem e fazem o bem.