quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Apatia

Eu não me importava, eu realmente não me importava. Não naquele momento. Eu achava que seria sim, o término de mais uma etapa mas que a falta daquilo não me aborreceria, doce engano.
Os dias iam passando, e chegávamos cada vez mais perto do fim, do último dia, da despedida. Tentávamos bolar alguma coisa, mas não conseguimos nada. E foi assim que as coisas se acabaram. Chegado o último dia, saímos um pouco mais cedo, e fomos para o bar. Grande despedida. Trouxeram uns aperitivos e umas cervejas. Eu, como era de menor ficava olhando a rua toda hora, de repente passou um camburão pra cima, e não voltou, foi um alívio para mim. Acabou então a cerveja, pegamos as mochilas e saímos. Acompanhei meu amigo até a casa dele, era umas onze horas da noite. Ficamos ali conversando uns vinte minutos, falando sobre a escola, os professores, a galera, os dias tão apáticos, que são tantos. Ambos com as mesma falta de convicção, ambos tão decepcionados, com tudo, com a vida que levávamos. Por vezes, alguns argumentos tentavam subsistir, mas não eram suficientes para aniquilar o amargo de nossas vidas, nossos corações quebrantados, e o vazio. Olhávamos um para o outro e ríamos, de nós mesmos, da nossa miséria, da nossa pobreza de espírito, da nossa tão sem vontade de viver. Tudo porque nada tínhamos, ele professor de inglês, eu de música, e ambos sem convicção nenhuma. E ele dizia: Tua mãe já olhou pra você e disse, você é um bosta!? E eu respondia que sim, o que de fato aconteceu, não só minha mãe, mas meu pai também. E mandávamos à merda, não eles, mas a nós mesmos. Mas contudo não culpávamos somente à nós mesmos pela nossa desgraça, mas às circunstâncias, à falta de oportunidades, aos atrasos, e à nossa falta de sorte.
E eu achava que não precisava de uma formatura. Mas se tivesse acontecido, hoje vejo o quanto seria significativo pra mim. Não era bobeira, nem perda de tempo. Mas aquele ano foi trágico em seu fim, trágico e melancólico. Sem mais vida, sem expectativas nem direção. Mais um ano que acabou sem chave de ouro, sem cortinas nem tapetes vermelhos, sem música, sem platéia, sem cor. Eu sozinho, pra variar, em todos os sentidos, nem amigos, nem garota, nem família presente. O quanto essa vida é vazia!
Veja bem as horas, uma e sete da madrugada, e eu frente a um computador escrevendo. Eu rio disso. É de fato risível. Agora pouco toquei numa formatura, e lá uma garota veio falar comigo, uma conhecida, falamos pouco, e não rolou nada, obviamente, e bateu aquela tristeza que bate sempre, não por não ter rolado ali, porque eu já sabia que não daria em nada, mas é que isso faz eu lembrar de todas as minhas derrotas, que se somam incansavelmente. E por vezes eu tento lembrar dos bons momentos, dos elogios etc, mas nunca são suficientes para tirar toda a tristeza e mágoa de mim. Penso sempre que a 'Fortuna', e o 'Destino' estão sempre contra mim, porque as "horas certas nos lugares certos" acontecem com tão pouca frequência! E a hora errada no lugar vazio, isso parece que me acompanha. É significativamente triste tudo isso, minha vida é feita de melancolia, não dá pra negar. Eu consigo sentir o que sentia ao relembrar um episódio triste da minha infância. Existem muitas tristezas, mas nada é pior que a solidão. E eu só consigo lembrar de episódios que estive sozinho, desejando alguém do meu lado, mas esse alguém, eu não fazia nem faço idéia de onde esteja. provavelmente com o pensamento em qualquer outro lugar que não eu. Quando olho meu passado, minha infância, posso traduzir tudo numa figura, um lugar acinzentado onde só esteja eu, mais ninguém, porque todos os episódios que consigo lembrar são assim. E é realmente triste, ver e sentir minha tristeza e abandono todos os dias. Às vezes pego meu violino e tento canalizar meus sentimentos, mas nunca consigo, tudo que sinto é um vazio imenso dentro de mim.
Mas a vida continua, como sempre, fazer o que, bem ou mal ela vai continuar seguindo e nós tropeçando talvez, temos de acompanhá-la. Eu sei que preciso de alguém para amar, eu sei que a vida sem amor não é nada. Eu sei que fui um idiota ao lançar ao vento todas minhas grandes oportunidade de ser feliz, no fim das contas só posso culpar-me a mim mesmo. Que arrogante e ignorante sou! Me pesa, tudo me pesa, o amargo no peito, a falta de bons momentos, o rosto sempre tristonho, a vontade de um abraço. Carência, eu odeio essa palavra, faz de você mais miserável ainda. Mas é assim como as coisas acontecem comigo, eu quero só uma garota para reclinar minha cabeça no seu ombro e deixar as lágrimas cairem, lágrimas que serão de felicidade, assim são meus dias, tão tristes, eu tão só, sempre, a disfarçar minha tristeza, minha solidão, meu lamento. Deixo, escondido, as lágrimas caírem, banham meu rosto. Quando esse tempo ruim vai terminar? Será mesmo que serei feliz um dia? Espero que amanhã seja um dia bom, que eu encontre por aí alguém que me dê um abraço e uma palavra amiga sincera.

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