domingo, 24 de janeiro de 2010

Passagem

Já não era mais um problema. Os dias eram calmos agora, quando ouvia-se uma voz um pouco mais elevada lembrava-se das mudanças dos últimos dias. E a calmaria, a sua 'paz de espírito', como gostava de chamar, batia-lha à porta do coração. Foi conflitante em verdade todo esse mar de turbulências por que passou, tudo por querer não deixar de lado o que sempre quis, sua missão. Por vezes parecia bobo querer ser diferente, mas na verdade ele não podia mais ceder. Sim, ele tinha um caminho. E agora queria segui-lo. E a sua convicção era forte. Deixava de lado tudo que considerava banal, e corria atrás de buscar mundos novos, mundos do passado. Na História encontrava seu mundo. Todos aqueles grandes heróis e vilões ao mesmo tempo, Napoleão, Alexandre, Kennedy, Getúlio, de qualquer lugar do mundo encontrava as melhores personagens da História. Tudo isso o cativava, e descobrira que queria ser professor, de Música, de Filosofia, de Sociologia, História, fosse o que fosse, ele aspirava àquela relação professor-aluno. Pensara até em Pedagogia. Admirava imensamente dois grandes nomes na Educação, Piaget e Paulo Freire. Lia-os avidamente, guardando tudo o que encontrava destes dois grandes homens e educadores que foram. No seu coração questionava o modo como aqueles seus professores ensinavam, ou como faziam de conta que ensinavam. E a irresponsabilidade daqueles recém-formados o indignava, dizia às vezes que iria revolucionar o sistema educacional. Parecia bobo, ou prepotente, mas na verdade tudo isso fazia muito sentido para ele, e ele se importava.
Brincava de ser escritor, lia e relia grandes autores, o pai indignava-se. Trabalhava com um livro do lado, comia lendo, e ia dormir lendo também. Sonhava, e de tudo a sua volta queria fazer literatura. A vida poderia ter muitos sentidos, mas o que estava mais próximo era o mais falso. Olhava, não com indiferença, nem com indignação as pessoas vulgares, mas tinha qualquer aversão por elas que fazia com que ele se distanciasse mais e mais. Sua vida virara um universo de histórias, histórias, e música, muita música. O som dos anjos. E nesse mundo nos expandimos. Os dias significavam nada mais que uma corrida intelectual. Queria só ler, ler, ler, aprender, saber do mundo todo. Queria uma biblioteca, mas sabia que era caro ter uma. Nunca tivera ambição, o dinheiro significava qualquer coisa de repugnante. Sua ambição era intelectual, sim, parecia que toda sua vida girava em torno disso. Sonhava estar um dia no meio dos grandes intelectuais discutindo a política internacional, a sociedade, a filosofia contemporânea, a arte... Queria inventar, queria ser famoso. Queria tanta coisa. E o mais impressionante era a sua fé, e a sua coragem. Não duvidava de nada. Lembrava-se "Para Deus tudo é possível", e ele sabia que era um dos filhos Dele. Lera toda a Bíblia. Cada palavra do Evangelho era como um vento suave que percorria seu interior e limpava sua alma. A pureza daquelas palavras o levava até ao céu e o trazia novamente, brando, sereno, límpido. A moral cristã... nada mais correto.
Olhava o mundo lá fora e fazia-se tantas perguntas. Parecia a Sofia de Gaarder. Aquela garotinha que aprendera a ver o mundo com outros olhos, também o cativava. Quem dera um livro seu um dia fizesse tanto sucesso. Sabia que nada era impossível.

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